Hoje apresentamos um poema produzido pela docente Libéria Matos.
A LAGARTA DE CABEÇA TORTA
Na horta do
senhor Januário
Reina a
maior confusão
No canteiro
dos tomates
Nasceu um
pimentão
Trocaram-se as sementes
Na altura da
sementeira.
As couves
estão exigentes
Não querem
lá a batateira.
Os rábanos e
os rabanetes
Não querem
ser vizinhos
Lutam
debaixo da terra
Porque não
querem ser primos.
As melancias
e os melões
Espalham-se
rápidos na horta
Andam ao
despique, aos encontrões
E o que
fazem é só batota.
O alho porro
diz que já não suporta
O cheiro
intenso do alecrim
Prefere
nascer com a cabeça torta
Para ir
cheirar o jasmim.
As alfaces
repolhudas
Começaram a
perder a cor verdinha
Porque as
couves tronchudas,
Quiseram ser
suas vizinhas.
- Tirem-me
deste canteiro!
- gritava a
salsa furiosa.
- Assim vou
perder o cheiro
E fico pouco
saborosa.
Pediu ajuda
à hortelã
Que de pouco
lhe valeu
Foi comida
por uma rã
Que aos
saltos, por ali apareceu.
Vermelhos e
vaidosos
São os
morangos convencidos,
Pensam que
são os mais saborosos,
E de todos
os mais apetecidos.
A cebola
irritada gritou:
- Isto não
vai ficar assim!
Vou pôr tudo
a chorar,
Do princípio
até ao fim.
“Ai quem me
acode nesta aflição,
Que já lá
vem problema,
Desisto! …
Vou chamar o hortelão
Que resolverá
este dilema!”
O senhor
Januário está preocupado
De ouvir
tantos lamentos e queixumes,
Sabe que foi
o culpado
Porque
baralhou os legumes.
Numa tarde,
quase à noitinha
Houve na
horta pânico geral
Uma gulosa lagarta
verdinha
Apareceu destemida
no faval.
Quando
olharam bem para ela,
Riram todos às
gargalhadas,
A lagarta
tinha a cabeça torta
E as patas
trocadas.
“Isto vai
ser um festim…!”
Pensava a
lagarta gulosa.
Agora riem de mim,
Mas depois sou eu quem goza!
Nos
canteiros misturados
Já não houve
mais lamentos
Todos
estavam preocupados,
Não tardaria
serem seus alimentos.
Foi remédio
santo aquela tarde
Em que a
lagarta apareceu
Puseram o
orgulho de parte
E só o melro
é que as compreendeu.
“Senhor
melro, leve esta criatura
Para bem
longe deste lugar!
Não queremos
que a coma
Muito menos
a magoar”
Estava a
lagarta de cabeça torta
Às dentadas
na couve portuguesa
Preparava-se
para saborear a menta
Que seria a
sua sobremesa.
Eis que a
folha se agita
Dá duas
cambalhotas no ar
O melro está
pronto, está à vista
Foi o
momento de a apanhar.
A grande
confusão na horta,
Só porque
por ali passou,
Uma lagarta
de cabeça torta.
Com tudo
isto aprendemos
Uma grande e bonita lição,
Somos o que merecemos
E o melhor
de tudo … é o PERDÃO!
Maria
Libéria Matos
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