terça-feira, 23 de março de 2021

UM POEMA POR DIA

 Hoje apresentamos um poema produzido pela docente Libéria Matos.


A LAGARTA DE CABEÇA TORTA

 

Na horta do senhor Januário

Reina a maior confusão

No canteiro dos tomates

Nasceu um pimentão

 

Trocaram-se as sementes

Na altura da sementeira.

As couves estão exigentes

Não querem lá a batateira.

 

Os rábanos e os rabanetes

Não querem ser vizinhos

Lutam debaixo da terra

Porque não querem ser primos.

 

As melancias e os melões

Espalham-se rápidos na horta

Andam ao despique, aos encontrões

E o que fazem é só batota.

 

O alho porro diz que já não suporta

O cheiro intenso do alecrim

Prefere nascer com a cabeça torta

Para ir cheirar o jasmim.


As alfaces repolhudas

Começaram a perder a cor verdinha

Porque as couves tronchudas,

Quiseram ser suas vizinhas.

 

- Tirem-me deste canteiro!

- gritava a salsa furiosa.

- Assim vou perder o cheiro

E fico pouco saborosa.

 

Pediu ajuda à hortelã

Que de pouco lhe valeu

Foi comida por uma rã

Que aos saltos, por ali apareceu.

 

Vermelhos e vaidosos

São os morangos convencidos,

Pensam que são os mais saborosos,

E de todos os mais apetecidos.

 

A cebola irritada gritou:

- Isto não vai ficar assim!

Vou pôr tudo a chorar,

Do princípio até ao fim.

 

“Ai quem me acode nesta aflição,

Que já lá vem problema,

Desisto! … Vou chamar o hortelão

Que resolverá este dilema!”

 

O senhor Januário está preocupado

De ouvir tantos lamentos e queixumes,

Sabe que foi o culpado

Porque baralhou os legumes.

 

Numa tarde, quase à noitinha

Houve na horta pânico geral

Uma gulosa lagarta verdinha

Apareceu destemida no faval.

 

Quando olharam bem para ela,

Riram todos às gargalhadas,

A lagarta tinha a cabeça torta

E as patas trocadas.

 

“Isto vai ser um festim…!”

Pensava a lagarta gulosa.

 Agora riem de mim,

Mas depois sou eu quem goza!


Nos canteiros misturados

Já não houve mais lamentos

Todos estavam preocupados,

Não tardaria serem seus alimentos.

 

Foi remédio santo aquela tarde

Em que a lagarta apareceu

Puseram o orgulho de parte

E só o melro é que as compreendeu.

 

“Senhor melro, leve esta criatura

Para bem longe deste lugar!

Não queremos que a coma

Muito menos a magoar”

 

Estava a lagarta de cabeça torta

Às dentadas na couve portuguesa

Preparava-se para saborear a menta

Que seria a sua sobremesa.

 

Eis que a folha se agita

Dá duas cambalhotas no ar

O melro está pronto, está à vista

Foi o momento de a apanhar.

 

 Foi assim que acabou

A grande confusão na horta,

Só porque por ali passou,

Uma lagarta de cabeça torta.

 

Com tudo isto aprendemos

Uma grande e bonita lição,

Somos o que merecemos

E o melhor de tudo … é o PERDÃO!

 

                                                                                   Maria Libéria Matos






 

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